02 dezembro 2016

Gira mundo



Dia desses me parei a lembrar de como foi ter minha vida arrancada de mim há 10 anos atrás, e nossa, me surpreendi com a facilidade que a vida tem de tornar o previsível no inesperado, eu necessitei “morrer” para renascer. Quando descobrimos que temos uma doença rara, grave e incurável parece que todos os nossos planos e sonhos caem por terra. E assim foi, da noite pro dia minha vida deu um giro de 360°  e uma "clareada" para que eu pudesse, obrigatoriamente, repensar toda ela. Confesso que eu queria ficar com a minha vida "normal" e "antiga" mas eu não tive escolha.
Quando me vi frente ao meu novo mundo eu já tinha apenas duas escolhas: deprimir-me, me trancar no quarto e chorar incansavelmente, até não se sabe quando ( o que não adiantaria nada) , ou encarar esse 'lobo' como um processo de renovação e renascimento.
Com o tempo, você vai aceitando suas limitações e aprendendo com elas. E precisa tirar  forças de onde acreditava-se nada se ter.
Não demorou muito para que lentamente meu corpo começasse a mudar, revelando-me que, de fato, eu havia entrado pelas portas de outro mundo, com uma nova atmosfera, novos ventos, cheiros, gostos, uma nova cara.
Passar as mãos nos cabelos e eles ficarem nelas é encarar de forma concreta o que está acontecendo com você... disso vem a plena certeza de que, é real o fato de estar debilitada e que não há nada a se fazer, a não ser despedir-se de sua antiga imagem, que não será mais a mesma, porque além dos cabelos, o rosto estará diferente inchado e muitas vezes assustador e  não se sabe até quando... então você se revestirá de uma nova moldura, afinal, aquela que era sua proteção ficou pelos ralos da vida.


No entanto, o tempo, sábio como é, me trouxe algumas lições, através de reflexões, análises, leituras, terapias constatei que, perder ter a aparência física mudada não era assim tão importante quanto estar viva. Constatei ainda que ganhar alguns quilinhos a mais por conta do tratamento não foi tão ruim assim, quando obtive como troféu uma experiência para uma vida inteira, que dinheiro algum do mundo pode pagar.O troféu da minha segunda chance...
No entanto, até isso ficar claro na cabeça e no coração foi preciso passar por um longo processo, mesmo porque esse é um caminho individual e não coletivo.
Percebi que por mais que tentemos mudar alguns acontecimentos que ocorrem na vida, eles se fazem necessários. Explico. É que às vezes precisamos passar por dores de ordem física, que geram dores de ordem psíquica, para verdadeiramente entendermos o real sentido da vida, dando valor apenas ao que realmente merece ser valorizado. ´
É tanta vontade de viver que você fica despercebido do quão perto esteve da morte e aprende que a vida é simples demais, em contrapartida, frágil demais. É cada surpresa, cada mistério... hoje respiro, amanhã pode ser que não. Hoje estou aqui, amanhã, não sei.

Dizer que Lúpus foi a melhor coisa que já me aconteceu talvez não seria a melhor colocação, afinal, o processo não foi fácil, nem prazeroso. A luta era diária pela sobrevivência...e continua sendo.
O que posso dizer é que, passar por essa portinha estreita e escura me fez enxergar quão curta é a estrada da vida e quão frágil sou diante dela, e assim, deixei de lado minhas futilidades, inimizades, banalidades e busquei concentrar-me na minha capacidade de tornar-me melhor, amar mais, perdoar mais, doar-me mais, e valorizar cada minuto do meu dia.
Porque não dizer que fui agraciada com um presente da vida? Claro, reconheço, não veio no melhor embrulho, nem com o laço mais bonito, mas veio com a beleza do aprendizado. Aprendi da beleza do processo de cura interior e exterior.
A vida me deu uma nova chance de ter um novo olhar para tudo, de apreciar o cantarolar de um pássaro, de admirar o amanhecer e o entardecer, com um cântico no coração. Coisas que antes nunca tirava tempo para essas coisas tão simples porém maravilhosas.
Aprendi que na difícil caminhada não adianta muito reclamar e autopiedar-se, é preciso erguer-se, pegar as ferramentas necessárias e ir à luta.
Aprendi, também que nessa caminhada a família e os amigos que estão contigo em oração, sofrem com você, choram com você, e alegram-se com suas vitórias diárias.
Aprendi que a moldura de um rosto não é um belo cabelo, como ensina os contos de fadas e Cinderela, mas sim um simples sorriso. E isso nunca me falta!
Aprendi em tão pouco tempo que minha vida, de fato não é minha, e que de nada adiantará eu buscar acrescentar dois ou três anos de existência, se eu não estiver sob o manto protetor Daquele que me trouxe de volta a vida, depois de ter me ensinado as principais lições dela. Deus. Ele me deu o presente, a dádiva de renascer e reaprender a viver a vida...E hoje, mesmo sofrendo muito (ainda), com minhas dores, medos, inseguranças, cansaços e mudanças eu tiro forças não se sabe de onde e abro meu sorriso indo à luta, pois eu amo viver!!!!
Já sei as batalhas que terei que enfrentar no ano novo que está logo ali... a 'agenda de compromissosX Lúpus já está cheinha... Espero continuar com essa minha louca mania de contos de fadas, sonhadora e cheia de FÉ E ESPERANÇA... 



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