Tava aqui lembrando o dia que eu percebi que a vida é curta realmente… Você está ali na sua, sem dar papo para ninguém, querendo viver seu momento, querendo deixar para depois todos aqueles planos e sonhos anotados naquela listinha de desejos pra vida toda. E de repente a sua vida é cronometrada pelo tempo.
Quando fiquei doente, jamais pensei que eu teria tempo exato pra tudo. Poxa, eu era uma menina saudável, serelepe, cheia de planos pra uma vida normal, cursando faculdade, frequentando baladas, e cheia de amigos. Só que, assim da noite pro dia, eu não tinha mais nada disso disponível, e a minha única alternativa era aceitar esse lance de ser doente e viver conforme a doença te permite viver. Percebi então que o nosso tempo é algo valioso. E eu acho que a gente só se dá conta disso, depois que você não tem mais tempo. Depois que já aconteceu, depois que já se foi, depois das palavras ditas, ou talvez não ditas na hora certa. Existe aquela frase que diz que não adianta chorar o leite derramado, e eu estou percebendo que é assim mesmo. Quando você vive nesse 'tempo' onde nunca se sabe se amanhã você vai abrir seus olhos em sua cama, da maneira em que você planejou, ou se por causa de algum acontecimento do tipo o que me aconteceu noite dessas, dormindo fui picada por uma aranha, e nossa, eu tive muita sorte de essa aranha não ser tão venenosa. Nesse momento eu percebi que o meu tempo poderia ter acabado ali com aquela picada, pois o meu organismo não teria forças nem condições de superar o veneno e a infecção dela. Só que eu tive a chance de mais tempo aqui, e a picada está sendo tratada e eu estou bem. Você só se da conta de certas coisas quando não possui mais elas. O Lúpus é o meu tempo minuto a minuto. É a forma com que eu vivo, são as medicações tomadas corretamente, as consultas e exames feitos direitinhos e a aceitação de uma vida totalmente dependente de tudo pra tudo.
Estava eu a pensar nessa coisa de tempo, e cara eu queria ter mais tempo pra curtir aquelas amizades perdidas , tempo para realizar meus sonhos, tempo para viver sem dor, tempo pra ver todas as lúpicas ficarem boas, sem essa luta injusta e cruel por um tratamento adequado, por medicações necessárias, eu queria tempo para tentar fazer a diferença e mostrar que pode dar certo, que tudo vai ficar bem, que não iremos mais sentir dores…Todos nós passamos por sustos. Por momentos em que a vida nos dá uma rasteira e não sabemos mais em que solo pisamos. A gente se fere, se fecha, se ressente. Mas é preciso força para ser novamente semente. Para transformar pequenas gotas de orvalho em banho de chuva corrente. Para chorar mágoa e renascer flor. Para enxugar o pranto e cicatrizar a dor. Aos poucos fui tecida concreto, cimento e rocha. Aos poucos tornou-se pedra a menina que um dia foi flor.
Porém… Ninguém é feliz por inteiro quando perde a fé. Quando perde a esperança por dias risonhos e noites dançarinas. Quando não há transpiração nem emoção. Quando falta amor e sobra rancor.
Por isso e para isso existe o tempo. O tempo que sopra as feridas e afofa o solo árido de nossas crenças e emoções. O tempo que restaura a dor e seca o pranto. O tempo que possibilita que volte a ser flor o que um dia foi pedra.
Contrariando o que se esperava dela, a flor rasgou o chão. A flor rompeu a muralha de cimento e buscou a luz. A flor encontrou uma sutura mal feita na rocha e brotou inteira, forte e verdadeira, sob os raios de sol. A flor desafiou as intempéries da jornada e resistiu como alicerce de delicadeza e fortaleza.
O lance de todos nós é esse, tempo. O nosso tempo é tão curto. Então eu hoje gostaria de deixar uma mensagem a todos vocês que estão lendo esse post:
“Não desperdice o teu tempo …Lembra que eu falei em fazer uma lista de coisas que eu queria fazer na vida? Então, não espere mais nada. Não espere ficar curada(o), porque mesmo sem estar doente a vida é muito curta. Vai ser feliz agora. E não tenha medo, não adianta. Precisamos ter força. Acho que eu nunca disse aqui, mas é isso que vocês todos são pra mim”,
MINHA FORÇA. MEU TEMPO. MINHA ESPERANÇA
Ana Paula G. Heinze
Nenhum comentário:
Postar um comentário